segunda-feira, 29 de abril de 2013

BAILE FUNK


Som alto de carros, bailes funk e barulhos viram pesadelo para os moradores no final de semana em Taboão, Embu e Itapecerica

Atualizado em: 28/04/2013 | Sandra Pereira
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Sandra PereiraSom alto tira o sossego dos moradores. Veículos devem ser periciados e até apreendidos, defendem moradores
O barulho excessivo, o som alto de carros, e os bailes funks transformam os finais de semana em dias de tortura para os moradores de vários bairros de Taboão, Embu e Itapecerica. O problema é tão sério que afeta a rotina da população. Interfere nas relações entre os vizinhos, promove alterações de humor e chega a provocar brigas dentro de casa. Mas, a principal consequência do barulho excessivo é sem dúvida a impossibilidade de uma noite tranquila de sono. Sem conseguir dormir direito, os moradores ficam sujeitos ao mau humor e a problemas como dor de cabeça e cansaço constantes, que aumentam o nível de estresse. Por causa do barulho muita gente sonha em mudar para um local mais tranquilo e todos defendem punições mais rigorosas para quem abusa do som alto em carros, bares e estabelecimentos noturnos.

Ter uma noite de sono tranquila é um luxo que os moradores das ruas Frei Galvão, Cid Nelson Jordano e Isabel Soraia Mainardes, todas na periferia de Taboão da Serra desconhecem. Também é assim a situação dos moradores de ruas do Intercap, Laguna e Três Marias. Em todas elas o tráfego intenso e constante de carros com volume ensurdecedor já fazem parte da rotina nos finais de semana. Em alguns casos o volume é tão alto que chega “estremecer” janelas e paredes.

“Eles passam com o som tão alto que balança as janelas e paredes. Parece que ficam competindo pra ver quem faz mais barulho. O pior é que não respeitam hora e nem ninguém. A polícia tinha que parar e prender na hora esses carros que passam fazendo barulho demais e tinha que cobrar uma multa bem alta para os donos aprenderem a ouvir as músicas deles sem incomodar os outros”, sustenta uma moradora da rua Isabel Soraia Mainardes que teme ser identificada.

Poucos metros acima outra moradora diz que a vizinhança é dominada pelo barulho e admite haver dias em que mal consegue pensar. “Às vezes eu tenho vontade de sair gritando na rua. Dá trabalho controlar o meu marido. Já colocamos a casa pra vender, mas quem veio olhar viu o barulho e não gostou da rua”, lamenta.

Além dos carros com som alto demais a rua sofre com os shows de dois estabelecimentos bem próximos, e que segundo ela, competem para ver quem tem o som mais alto. Ao ser informada pela reportagem sobre a Lei do Silêncio existente em Taboão a moradora é taxativa ao afirmar que a lei nunca funcionou na sua rua. “Aqui ninguém nunca respeitou. Também não vejo fiscalização”, conta.

Quem mora nas ruas de maior movimento sente ainda mais os efeitos das noites mal dormidas. As pessoas com idade mais avançada se incomodam com o barulho excessivo. Não é raro encontrar quem admite ter tido algum tipo de reação mais “irracional” quando o  assunto é o barulho. Neste final de semana a reportagem do Jornal na Netconversou com dezenas de moradores nas três cidades e constatou que todos sentem de maneira negativa os efeitos do barulho excessivo.

Quando o pai adoeceu e precisou passar por uma cirurgia o morador que vamos chamar de Antônio por pouco não se envolveu em uma tragédia. Vizinho de um bar habituado a tocar música alta de madrugada uma noite ele perdeu paciência e foi até o local pedir ao proprietário que baixasse volume da música para que o pai descansasse um pouco.
“Ele reagiu com violência e só parou porque a minha mãe chamou a polícia. Tinha uma viatura perto graças a Deus. Depois disso levamos meu pai para a casa da minha irmã até ele melhorar”, relatou. “Até hoje eles fazem a mesma coisa. Tem dias que a polícia aparece e eles baixam o volume, mas quando vão embora fazem tudo de novo”, denuncia.

Embu das Artes


Já faz um ano que a família de Simone dos Santos tenta vender a casa no Jardim do Colégio. Por lá os carros com som alto parecem ser sinal de status e ela diz que os jovens abusam demais dos ouvidos e da paciência dos moradores. Simone acorda muito cedo a semana inteira e sonha em poder dormir um pouco mais no final de semana, mas há meses o sonho não se concretiza. “Eu já troquei as janelas do quarto, pus cortina bem pesada e tem dias que chego a tapar os ouvidos com algodão. Mas o som dos carros é tão alto que as paredes estremecem”, relata.

Ela conta que já viu brigas feias na vizinhança por causa do barulho, mas admite que de nada adianta. Para Simone a ação policial nesses casos devia ser mais rigorosa. “Tinha que multar e prender os carros. Isso ia servir de exemplo para os jovens”, observa.

Na região do Santo Eduardo barulho e finais de semana parecem ser indissociáveis, ao menos é o que dizem os moradores que já se habituaram a rotina de quase não poder dormir. “Por aqui quem dorme quatro ou cinco horas por noite tá no lucro. E a pessoa tem  que suportar calada porque se for reclamar corre o risco de morrer”, ironiza um auxiliar administrativo que trabalha em São Paulo e também já teve problemas com a vizinhança por causa do barulho.

No caso dele um vizinho que instalou um equipamento de som caro em seu veículo era o causador do problema. “Ele parava o carro na frente de casa abria o porta malas e deixava o som topado. Ninguém podia assistir tv ou conversar dentro de casa. Um dia eu falei para ele abaixar um pouco e nós acabamos brigando feio. Não adiantou nada. Depois disso o jeito foi ignorar o problema. Quando está insuportável eu saio de casa. Mas fico furioso com isso”, relata.

Itapecerica da Serra


Os finais de semana costumam ser literalmente infernais nas imediações da Chácara Geralli, no Jardim São Pedro, em Itapecerica da Serra. Sem saber mais o que fazer para conseguir descansar e se preparar para uma nova semana de trabalho uma moradora que por motivo de segurança pede para não ter o nome revelado pediu socorro à reportagem do Jornal na Net  no dia 11 abril para acabar com um baile funk que vem tirando o sossego dos moradores há vários meses.

“Venho solicitar a ajuda de vocês para acabar com baile funk que está acontecendo aos sábados na chácara Geralli, no São Pedro. Nos dois últimos finais de semana ninguém dormiu com a música alta que começa às 23 horas e vai até às 5 horas da manhã. O pior é ouvir o dj mandando os casais se alizar. Nós já ligamos muitas vezes para a polícia e nunca resolveu. Não gostaria de ser identificada porque tenho medo de quem promove os bailes”, relatou temerosa.

No último dia 27 a moradora voltou a fazer contato com o Jornal na Net pedindo ajuda para acabar com o baile funk no local. “Hoje será mais uma noite sem dormir. Esta noite  vai ter baile de novo os convites foram entregues na porta da escola do São Pedro. O baile vai começar às 21 horas e não tem hora para acabar. Vai ser a noite da minissaia. A menina que for com a minissaia mais curta vai ganhar um kit combo que seria duas garrafas de vodka”, alertou a moradora. “É assim todo final de semana. Na segunda eu tenho que acordar cedo e trabalhar enquanto eles podem dormir já que não fazem nada”, diz indignada.

O drama enfrentado pela moradora do São Pedro se repete nas ruas do Parque Paraíso, Jacira e no Valo Velho. Muitas vezes a população não denuncia por medo e fica refém dos ousados propagadores do barulho que desrespeitam sem pudor não somente a lei do silêncio como o direito sagrado dos trabalhadores de descansar. 

Qual o limite de som nos carros?


O limite foi fixado por meio de uma resolução do CONTRAN que regulamenta o artigo 228 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que prevê multa, cinco pontos na CNH e a retenção do veículo para regularização.

De acordo com o CTB o agente de trânsito efetuará a medição da frequência do som por meio do decibelímetro. Em Taboão da Serra o equipamento passará a ser utilizado em breve pela Guarda Civil Municipal e pode ajudar a reduzir as reclamações dos moradores.

 Na prática quem descumprir as normas previstas estará cometendo infração grave, estando sujeito às penalidades previstas no artigo 228, do Código Brasileiro de Trânsito (CTB), mas a falta de fiscalização acaba favorecendo o descumprimento da Lei.

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